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Entrevista com Sônia Moojen

Data da Entrevista: 15 Junho, 2014 Entrevistado(a): Sônia Moojen Entrevistador(es): Andrea Racy e Patrícia Vieira

Fale-nos a respeito de sua formação profissional e suas atividades atuais.

Sou fonoaudióloga pelo Decreto nº 87.218/1982, graduada em Pedagogia pela UFRGS em 1967 e Mestre em Educação: área de concentração Psicologia Educacional pela FACED/UFRGS. A título de curiosidade, a tese defendida na conclusão do mestrado, em 1976, teve como título Avaliação de Sintomas das Dificuldades de Aprendizagem em crianças de 1ª, 2ª e 3ª séries do 1º grau de quatro classes socioeconômicas. Na ocasião, investiguei 1384 alunos a partir de depoimentos de seus professores em busca de dados sobre a incidência de crianças do 1º grau com dificuldades de aprendizagem, a compreensão desse tipo de problema por parte do professor, bem como a identificação das providências tomadas em nível escolar naquela época. Também relacionei dados referentes à classe social e ao sexo.

 

O Curso de Especialização em Psicopedagogia Terapêutica foi feito em 1972-1973, na Clínica Médico-Pedagógica de Porto Alegre, sob a coordenação do Dr. Nilo Fichtner.


Em 1974-1975, coordenei, junto com Dr. Nilo, o 1º curso de Especialização em Psicopedagogia Terapêutica, feito em universidade no Brasil. O curso foi desenvolvido na Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e tinha 1200 horas. Na mesma Faculdade, lecionei, entre os anos de 1969 e 1992, as disciplinas de Psicopedagogia Terapêutica I e II;

Didática I e II; Prática de Ensino do Curso de Pedagogia; Técnicas do Exame Psicopedagógico e Bases Sociais e Psicopedagógicas da Aprendizagem.


A dislexia é um tema que me preocupa desde 1969. Naquela ocasião, a significação do termo era mais ampla que a atual, abarcando qualquer transtorno na leitura e escrita. O 1º disléxico que encontrei na minha carreira foi atendido em 1969 e reavaliado recentemente em pesquisa longitudinal.


Quanto à minha atuação no momento, trabalho em consultório fonoaudiológico e psicopedagógico desde 1969. Iniciei essa atividade a partir de cursos e da observação do trabalho da equipe do Dr. Julio Bernaldo de Quirós, na Argentina.


Acompanhei, durante todos esses anos, as diversas teorias e práticas relacionadas à dislexia. Mesmo assim somente em 2000 encontrei maior identidade do meu trabalho com as idéias e as pesquisas de professores Emílio Sanchez Miguel, Mercedes Rueda e Jesus Martins, da Universidade de Salamanca. Desde essa data, estudo periodicamente com esses professores, observando atividades clínicas e, particularmente, estudos de investigação em dislexia.


Atualmente, aposentada pela UFRGS, leciono a disciplina de Diagnóstico e Tratamento das Dificuldades/Transtornos de Aprendizagem em cursos de especialização em Santa Maria, Erechim e Frederico Westphalen. Em Santa Maria também coordeno o estágio supervisionado.


Tenho o privilégio de ser membro consultor de duas Sociedades de Dislexia: a do Rio de Janeiro e a de Porto Alegre.
Desenvolvo algumas pesquisas na área psicopedagógica que serão mais detalhadas em resposta à última pergunta.

 

O que é dislexia?

A dislexia é um transtorno específico nas operações implicadas no reconhecimento das palavras que compromete, em maior ou menor grau, a compreensão da leitura. Possui uma moderada evidência de origem genética, e afeta um subconjunto, claramente minoritário, de alunos com problemas na aprendizagem da leitura e da escrita.


Considero a dislexia um Transtorno de Aprendizagem da Leitura e Escrita em nível severo, em sujeitos com capacidade intelectual normal.

 

Quais as características apresentadas por um indivíduo para poder diagnosticar dislexia?

O disléxico apresenta necessariamente dificuldades nas habilidades nucleares, quais sejam reconhecimento de palavras (falta de precisão e rapidez), reconhecimento de pseudopalavras e escrita ortográfica. Também são muito frequentes dificuldades em habilidades associadas, como compreensão leitora, erros ortográficos e redação de texto.


Tais dificuldades estão presentes em sujeitos que tiveram escolarização adequada, visão e audição normal ou corrigida e não são portadores de problemas psíquicos ou neurológicos graves (que justifiquem, por si só, as dificuldades escolares). Normalmente estão atrasados na leitura e na escrita, com relação a seus pares, em dois anos, no mínimo, (se a criança tem mais de 10 anos) e um ano e meio (se tem menos dessa idade). Essa consideração é importante e condiciona a época de diagnóstico: após o final de 2ª série ou início de 3ª.


Outra característica definitiva é a persistência do problema apesar de tratamento adequado, tornando o prognóstico reservado.

 

Quais os instrumentos utilizados na área da psicopedagogia clínica para diagnosticar um disléxico?

Indicamos os seguintes procedimentos básicos para uso do psicopedagogo:

 

a) Anamnese com pais ou cuidadores, com a finalidade de obter informações sobre a história da criança. É preciso verificar também se a experiência educativa foi normal, descartar problemas auditivos ou visuais, bem como verificar a ocorrência de problemas semelhantes em familiares.

 

b) Testes de leitura
Utilizamos um teste de decodificação de sílabas, palavras e pseudopalavras onde se observa o uso das vias de reconhecimento, a velocidade, a presença de substituições, omissões, inversões, transposições, adições e retificações.
A observação da leitura (silenciosa e oral) de textos visa analisar estratégias de reconhecimento de palavras e de compreensão, velocidade, nível de esforço, tipos de erros, ritmo e expressão, aproximação texto-olhos, movimentos de olhos e cabeça, sentimentos expressos antes, durante e depois da leitura.

 

c) Testes de escrita
Para avaliar a escrita aplico um ditado balanceado e padronizado e um ditado de texto, acompanhado de análise quantitativa e qualitativa dos erros, vacilações, re-escritas, sentimentos expressos. Também analiso a produção textual espontânea ou semi-dirigida para avaliar a coerência, coesão, uso de pontuação, concordância nominal e verbal, ortografia, etc.
Muitas vezes é útil a análise de uma cópia de texto (máximo 5 minutos) para observar distância texto-olhos, porções copiadas, velocidade, tipos de erros, qualidade do grafismo, postura, etc.

 

d) Teste de Consciência Fonológica – CONFIAS (Moojen e colab., 2003) um instrumento de avaliação seqüencial das habilidades metafonológicas.

 

O estudo do disléxico deverá ser complementado por uma análise minuciosa do material escolar e das fichas de avaliação, desde o início de sua vida escolar.


O psicopedagogo que não aprofundou estudos na área da linguagem necessita do auxílio de um fonoaudiólogo para complementar a avaliação com testes de vocabulário e de fluência verbal e, particularmente, a testagem de processamento auditivo que é de competência da fonoaudiologia.

 

Um indivíduo disléxico pode superar a dificuldade de aprendizagem ou necessitará de um acompanhamento constante?

Como já foi referido anteriormente, a dislexia tem um prognóstico reservado, o que a torna um problema persistente. Os disléxicos não automatizam plenamente as operações relacionadas ao reconhecimento de palavras, razão pela qual despendem mais tempo e energia em tarefas de leitura. O aluno disléxico que, evidenciando alto grau de adaptação escolar, consegue entrar na universidade, apresenta dificuldades importantes na leitura de palavras não-familiares.


O tratamento do disléxico envolve um processo lento, laborioso e sujeito a recaídas, conforme sugerem os dados de estudos longitudinais de sujeitos reabilitados (Rueda e Sanchez, 1994).


Tenho entrado em contato com faculdades cursadas por pacientes disléxicos, com a concordância deles, para informar aos professores sobre as características desse transtorno, bem como para oferecer as orientações necessárias para uma adequada avaliação dos alunos disléxicos universitários.

 

No momento, quais são suas investigações e estudos nessa área?

Estou envolvida em dois tipos de investigação relacionadas às duas habilidades nucleares da leitura. A primeira diz respeito à elaboração e padronização de dois testes: um de decodificação de sílabas complexas; e outro de leitura de palavras e de pseudopalavras. A segunda investigação refere-se à elaboração de textos informativos para avaliação da compreensão leitora de alunos desde a 2ª série até a idade adulta.


A pesquisa que considero mais importante atualmente é supervisionada pelo prof. Emílio Sanchez e envolve um estudo longitudinal de 20 disléxicos atendidos desde 1968.


Sinto-me uma “eterna aprendiz” em dislexia.

cONTATO

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